A frase de Charles Bukowski, um dos poetas mais sujos que passou pela terceira pedra depois do sol, não evoca a luta feminista, mas mostra como o papel e a caneta (ou o muro e a tinta) podem ser uma boa companheira na resistência contra a opressão de gênero.
Para marcar o 8 de março, Dia Internacional de Luta da Mulher, selecionamos sete poemas inspiradores:
(Gioconda Belli, Nicarágua)
Sinto que sou um bosque
que há rios dentro de mim,
montanhas,
ar fresco, ralinho
e parece-me que vou espirrar flores
e que, se abro a boca,
provocarei um furacão com todo o vento
que tenho contido nos pulmões.
Conceição Evaristo – (Em memória de Beatriz Nascimento/Brasil)
A noite não adormece
nos olhos das mulheres
a lua fêmea, semelhante nossa,
em vigília atenta vigia
a nossa memória.
A noite não adormece
nos olhos das mulheres
há mais olhos que sono
onde lágrimas suspensas
virgulam o lapso
de nossas molhadas lembranças.
A noite não adormece
nos olhos das mulheres
vaginas abertas
retêm e expulsam a vida
donde Ainás, Nzingas, Ngambeles
e outras meninas luas
afastam delas e de nós
os nossos cálices de lágrimas.
A noite não adormecerá
jamais nos olhos das fêmeas
pois do nosso sangue-mulher
de nosso líquido lembradiço
em cada gota que jorra
um fio invisível e tônico
pacientemente cose a rede
de nossa milenar resistência.
Boca de Baixo (Brasil)
Sinta-se à vontade
entre meu sexo
e minha sintaxe
Alice Ruiz (Brasil)
e agora maria?
o amor acabou
a filha casou
o filho mudou
teu homem foi pra vida
que tudo cria
a fantasia
que você sonhou
apagou
à luz do dia
e agora maria?
vai com as outras
vai viver
com a hipocondria
Grazi (Feminismo Poético/Brasil)
Preciso aprender maus modos, ser um pouco egoísta.
Me acostumei tanto em sustentar edifícios abstratos que nem percebi minhas próprias rachaduras.
Benédicte Houart (Bélgica/Portugal)
são as mulheres que
fazem chorar as cebolas
como se descascassem a própria vida
e, arredondando-se então, descobrissem
um corpo, o seu
uma vida, a sua
e, no entanto, nada que de verdade
pudessem seu chamar
ou talvez sim, mas só
aquela gota de água salpicando
um canto do avental onde
desponta uma flor de pano colorida que
ainda ontem ali não ardia
Ledusha (Brasil)
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